|

sexta-feira, maio 12, 2006

 
Retrato de Sum Paulo

Pouco depois das 10 da manhã, sexta-feira na capital paulista, ponto de ônibus da estação Santa Cruz do metrô.

Uma mocinha pouco atraente e bastante magra come Doritos ao lado de um monte de gente que espera veículos com nomes pouco promissores -- Grajaú, Terminal Capelinha, J.M Sampaio.

Na frente dela, abre-se a porta do bumba chamado Divisa de Diadema. Nenhum passageiro fez sinal.


O motorista -- bochechas à la Heráclito Fortes e pança à lá Tim Maia -- diz à garota que não tomou café da manhã. Junta as mãos e pede comida.

Algo espantada, a menina sobe dois degraus do ônibus, derrama um tanto nas mãos do glutão faminto e desce. O farol está aberto, mas ele não liga.

Com as mãos ainda unidas, a camisa um pouco levantada e mostrando a barriga, ele come o salgadinho como se estivesse bebendo água. Desesperadamente.

Um tanto ainda fica na bochecha dele. Mas ninguém ousa alertá-lo. Sinal vermelho agora. As pessoas do ponto se entreolham. Umas criticam o motorista, que fecha a porta. Outros riem de soslaio.

Só caem na gargalhada um minuto depois, quando ele finalmente prossegue a sua viagem. Com fome ainda, provavelmente.

This page is powered by Blogger. Isn't yours?