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domingo, fevereiro 22, 2004

 
Crianças prodígio

Como é possível haver gente que gosta dessas crianças que aparecem aos 2, 3 anos de idade em novela, propaganda, programa de calouro e o diabo a quatro? A não ser que você considere repetir incansavelmente as palavras "Araraquara" e "Pirassununga" como grandes feitos para o proto-cérebro de um pimpolho, essas besteirices são tão representativas quanto o número de bahreinitas no Xingú.

Vez por outra a gente topa com uma topeira que gosta dos pivetes. Outro dia, uma vizinha, esperta com um poste de rua sem saída, comentou: "Esse meninote bonitinho vai me sair um baita de um ator! Se criança já é assim!". Nem tive dúvida: "Você tá zureta ou não percebeu que esse pentelho só repete na TV o que faz o dia todo? Ele não interpreta, ô sua mala! Já viu criança alcóolatra? Drogada? Transando, exceto pelos casos do Michael Jackson? Nãããããoooo! Então, como você pode dizer que esse espermatozóide que fala vai ser bom? Vai se lavar!"

Ela foi. Com a promessa de não mais voltar a minha casa para assistir TV na companhia dos meus familiares. Melhor assim, já que ela também vinha aos sábados para ver os "cutchuquinhos" (a expressão é da múmia-paralítica) cantarem no Raúl Gil. Um dia assisti ao quadro todo e vi um moleque de 4 anos cantando pior que uma preá grávida e ainda chorando porque perdeu! Porrada nele! Canta feito uma gralha e ousa reclamar? Fica em casa e assiste ao programa do Pastor Dedini na Al Jazeera!

Outra vez foi uma menininha que o próprio mentor desse espaço sentiu vontade de esganar. Cinco anos e a mocreiazinha já era quase pastora. Ela gritava: "Eeeeeem Eclesiaaaaaasteeeeees, Jééééééésuiz disse...". Se estivesse na platéia do programa perguntaria pra mãe: "O resultado você já conhece. Por que não aborta a criança? Vai ser melhor pra todo mundo assim!" Depois a menina cresce frustrada e acaba com uma pulga na calcinha, vendendo biscoitos Dunga em programa de alta madrugada.

Falta que eu te expurgo :

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terça-feira, fevereiro 17, 2004

 
ELE PECA PORQUE NINGUÉM O AJUDA

O homem aflito sofre. Acha que está sempre a pecar, a merecer castigos, a conquistar inimigos. Para ele, na vida, qualquer coisa que faça se define por um ato muito mau, nefasto, cruel... Não adianta rezar, meditar, prometer, sua aflição, a cada dia, a cada passo, a cada respiração, cresce e atemoriza. Pior que isso – ele não sabia definir o significado do verbo pecar. Definições há, aos montes, uns dizem que é sexo, outros a nudez. Outros falam que qualquer prazer é crime condenabilíssimo. Há quem atribua ao corpo a fonte de pecados e desgraças, ou a qualquer tipo de desregramento – mesma coisa que dizer, sair do normal ou do aconselhável pela hipocrisia social. Para a falta de definição, inventaram até uma lista com sete proibições.

Mas foi vivendo. E encontrou o homem sem alma, que parecia saber o que era diversão. Parecia que era calmo, nele não havia marcas de remorso. Davam-se bem, até o dia em que o homem aflito foi procurá-lo para se confessar. Sucedeu-se a seguinte conversa:

Homem aflito – Eu sofro, muito. Tenho um sentimento de culpa permanente, quanto mais me sinto purificado, mais sinto que posso achar a prevaricação ou estou pecando.
Homem sem alma – Que neurose. Para quê, isso? Relaxa, não tem por que na vida ficar assim.
Homem aflito – Até sei, mas o que se pode fazer, é assim que me sinto. Parece que tenho de pagar um infindável tributo por viver. Pelo simples fato de estar vivo.
Homem sem alma – Pois sinto o contrário: é a vida que me deve. Eu deveria era aproveitar mais, zoar mais, sinto-me um santo aqui. Se Deus existe, deveria me ajudar nesse sentido: a aproveitar mais o que há de bom, o mulherio, o etilismo, o tabagismo, o arrivismo...
Homem aflito – Queria ser assim, saber pecar.
Homem sem alma – Vou contar então o meu segredo. Sabe por que eu aproveito sem remorso? Porque até hoje ninguém, escutou, ninguém pôde definir, com clareza e persuasão verdadeira, o que é um pecado. Se não sei o que é pecado, como vou pecar? Como vou me castigar ou ser castigado por algo que não existe, pois falta-lhe uma definição decente? Estou permanentemente absolvido. Por isso faço aquilo que me der na telha. Tente você.
Homem aflito – Nunca ninguém me deu esse interessante conselho.

Depois da conversa, o homem aflito resolveu tentar ser como o seu conselheiro. Foi e fez tudo o que nunca fizera, ao exagero, sem pejo. Experimentou de tudo. Passados três meses, arrependera-se. Davam-lhe insônia e tremedeiras. Medrava o seu receio, perdera o prumo. Daí a um mês estava morto. O homem sem alma nem foi ao velório, nem ao enterro. Viveu longos anos, apesar do cigarro, do uísque, da mulherada da vida, da sacanagem profissionalmente promovida, da imaginação pervertida. Nunca se arrependeu.


Falta que eu te expurgo :


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terça-feira, fevereiro 10, 2004

 
Pedintes de busão, metrô e cia

Que tipo de babaca compra as mercadorias desses moleques que vendem suas bugigangas nos coletivos mundo afora? Só um completo idiota para acreditar que um pivete daqueles está falando a verdade, que precisa da grana e tudo mais. Precisa porra nenhuma. Vão gastar tudo em cachaça e livrinhos de Hare Krishna.

Nesta semana peguei um metrô incrivelmente vazio para 3 horas da tarde. Um desses entrou e colocou uma notinha no meu colo, junto com um pacotinho de bala de goma. Sem fazer uma venda no trem fantasma, o embrião de corno só se dispôs a cobrar a MIM, o último de quem recolhia as porcarias.

"Ajuda aí tio. Meu irmão tá doente", disse o fedelho com olhar de cão abandonado. Nem tive dúvida: "Vai te foder, moleque! Como é que falta dinheiro se você tem bilhete IMPRESSO POR COMPUTADOR?!" Lógico que ele deu no pé.

Só quem tem um QI inferior a 60, mela a testa quando toma sorvete, estuda Relações Públicas ou edita jornais laboratórios de faculdades falidas não teria percebido. Depois me aparecem uns patetas falando de direitos humanos, que o Pastor Dedini não aceita ajudar essas pessoas. E tem toda a razão! Esses putos são tão pobres quanto eu sou fã do Locomia!

Tanto que já dão aula de retórica pros caras de quem eles compram os livrinhos. Espalham a praga. Daqui a pouco a gente vai ter de ouvir discurso de Hare Krishna vendendo verdura no busão! Aí o jeito vai ser pedir asilo no Bahrein ou fundar uma outra comunidade alternativa com o Pepeu Gomes.

Falta que eu te expurgo:

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terça-feira, fevereiro 03, 2004

 
Menstruação masculina

Ao homem falta a menstruação. Para viver mais ou equiparar sua expectativa de vida com a das mulheres, o homem deve menstruar. Pois esse é o segredo das mulheres, a menstruação as faz mais longevas, sábias e poderosas. Repare que durante o mês a mulher acumula todas as suas angústias, todas as toxinas – das materiais à espirituais – no útero. A etimologia de histeria vem do útero. Só a mulher, em tese, pode ser histérica.

Não é fácil ter uma parte do corpo para armazenar tanta emoção, tanta loucura, tanto sentimento. Está tudo no útero, que após vinte e oito dias inexatos irá mostrar o resultado, irá mostrar a explosão que, adiada, enlouqueceria qualquer organismo vivo. Ou ainda irá dar mais um joão ao mundo. A origem da TPM está aí – período no qual a mulher se vê na intensa iminência de purgar seu corpo e alma das tais toxinas. Ou de garantir sua sucessão na Terra, para o bem e para o mal.

Já o homem, coitado, vai até o fim da vida sem uma menstruação. Morre mais cedo, é mais bruto, acha-se melhor por ser macho, bate em vez de beijar... Se tivesse a cada mês a oportunidade feminina de se livrar das coisas, estaria hoje mais sensível, mais amante, mais alegre, mais satisfeito. Sem exagero ou pieguismo ou homossexualismo.

Pode-se notar como a mulher pós-menstruação é a mais doce, a mais sensual, a mais lasciva. Todo santo mês a mulher fica mais poderosa se menstruar. E tem mulher que não acredita no poder das mulheres! Tem! Incrível como elas se deixaram subjugar. Incrível como o seu oposto usou a força bruta para estar mais distante delas.

O homem tem o desejo de tornar-se menos duro e fechado. Mas não vai consegui-lo ficando efeminado. Vai ter que menstruar, sim, mas à sua maneira. As mulheres iriam agradecer. E não há nada melhor no mundo e no além que o agradecimento fêmeo.

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Mandonismo

Não bastassem a censura e a pressão da sociedade sobre o homem, vem um que reclama do jeito do pedante de escrever, típica atitude do garotinho dono da bola. O dono da bola leva-a embora consigo se alguém lhe fizer falta, se alguém lhe atrapalhar o jogo, se o goleiro inimigo defender seus chutes.

Pois é assim que se comporta sir Desdém, aquele que delega poderes. Onipotente, não? Por ser dono do blog tenta coagir quem nele escreve por ter sido convidado. E com uma postura tão feia – censurando, proibindo, mandando. Um dia ainda Lhe apresentam uma menina chamada liberdade. Linda!

Como desgraça pouca não é bobagem, Desdém ainda comete o pecado dos pecados – importou-se com o uso e fruto que fizeram do Seu blog. Se Ele soubesse que um elogio por vezes é um ataque o mais ácido a quem não o recebeu, não perderia o tempo e o poder que tem para criticar os que participam do diário virtual Dele. O blog tem uma linha editorial que será respeitada. Ao elogiar alguém, dependendo do modo como é feito e do contexto em que é feito, tu tens a chance de denegrir outrem. Bastar atentar e perceber.

Este blog, é bom dizer em tempo, carrega, como uma chaga, o típico cacoete de quem é ou quer ser jornalista – ver o lado ruim das coisas como se fosse uma atitude corajosa, surpreendente, virtuosa, superior. Há quem se ache profeta ou durão ou sábio por causa disso. Triste visão de mundo.

Falta que eu te expurgo:

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