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domingo, maio 27, 2007

 
Discurso de formatura

Nesta segunda-feira eu finalmente pagarei quase R$70 por meu diploma universitário, obtido em um longo consórcio com a fundação cásper líbero. Em homenagem a essa importante data, publico aqui o texto que escrevi para ler na festa de formatura neste ano. Como não compareci, por absoluta falta de vontade e de público disposto a ouvi-lo, isto é o que resta:

Prezados formandos. Pais e professores:

É um grande prazer e um alívio estar aqui nesta noite junto de tantas famílias honradas, assertivas, pró-ativas e de bem, algumas das quais integrantes do grupo dos 2,7 por cento que detêm mais de um terço da renda do Brasil, segundo uma pesquisa do IBGE de outro dia desses.

Depois de passar 11 anos em escolas públicas e de camelar de emprego em emprego para pagar a faculdade, duvidoso de que chegaria dignamente até aqui, dividir essa festa com vocês é um sinal de que não virei corretor de seguro, defunto nem ladrão. (Aliás, se estou aqui de verdade, não posso ter certeza absoluta quanto a esse último – ninguém é jornalista impunemente.)

Adentrar a faculdade cásper líbero e sobreviver a ela não deveria provocar a idéia de que vivemos algo ímpar, incrivelmente especial. Nem deveria provocar as saudades mais profundas ao lembrarmos de queridos colegas e professores. Não deveria provocar a sensação de que convivemos de perto com algumas das mais brilhantes mentes do país.

E querem saber de uma coisa? Não provoca mesmo.

Mas isso não muda o fato de que saímos diferentes, alguns melhores até. Em quatro anos de curso superior, tivemos todos a oportunidade de enxergar além das paredes de gesso e dos tetos de isopor das nossas salas de aula. Pudemos começar a aprender a aprender. Buscamos superar a idéia de que devemos ter variadas opiniões, ainda que elas nunca formem um ponto de vista. Que essa procura não cesse nem nesta nem na última das nossas noites.

Por isso, é obrigatório compartilhar o mérito por essa conquista nossa com todos os professores que aqui encontramos; os ruins, os bons e os melhores. Sem exceção, não seríamos os mesmos sem eles.

Os ruins nos mostraram quem não queremos ser. Os bons nos motivaram e nos ensinaram a aprender. Os melhores nos demonstraram pelo exemplo a entender, ouvir, perseverar. E principalmente a continuar não tendo medo.

P.S.> Apesar de todo meu afeto ao longo desses anos, a faculdade não aceitou que pagasse pelo diploma nesta segunda-feira. Antes disso, tenho de entregar cópias autenticadas de quatro documentos que deveriam ter sido providenciados ainda na matrícula.

Na época eles deixaram passar porque o importante eram os quase R$1.000 de inscrição. Eu compreendo a situação: Paulo Freire teria feito o mesmo.

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segunda-feira, maio 14, 2007

 
Atenciosamente: seu vizinho otário

No fim de abril um casal com quatro filhos se mudou para a vila onde moro. Desde então, quase todos os meus jornais desapareceram. No último sábado, frustrado por mais um roubo, decido colocar um bilhete no meio de uma edição que não tinha sido furtada. O material fica na frente da casa dos novos vizinhos, tão ávidos por conhecimento. Segue o texto na íntegra:

"Os jornais que chegam têm um dono. Este também é meu e, apesar de antigo, eu o presenteio também.

Atenciosamente: Maurício, casa 15, único assinante do jornal Folha de S.Paulo nesta vila."

Três horas depois o jornal reaparece na porta da minha casa. No verso do bilhete, lê-se:

"Gostaria de lhe pedir desculpas, pois nós também não sabíamos.

Atenciosamente: Ana e Ricardo, casa 01."

Ah, tá. Eles não sabiam. É que os jornais costumam correr para as casas dos leitores que os aconcheguem melhor. Ou então pensaram que a Folha saiu distribuindo jornais pela cidade depois da morte do seu Frias "Frila-Fixo" de Oliveira.

Socializar o conhecimento é o caralho.

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