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domingo, abril 29, 2007

 

Eu Sou Botafogo

Eu sou o Botafogo da vida social paulistana –alguma coisas, assim como no falecido clube carioca, só acontecem comigo, para o bem e para o mal. Por isso, nada melhor para interromper o silêncio neste espaço do que contar uma estória desse tipo, que terminou de acontecer há duas horas.

No meio da maior chuva da semana, recebo telefonema de uma vizinha de um tio que mora em Salvador. Candidata a aeromoça, ela tem como um dos cartões de visita, aos 29 anos, o fato de ter morado ao lado do cumpade Washington. “Ninguém suporta aquele homem”, repete.

O outro atributo é o corpo, sem o qual não estaria cá escrevendo.

Pois bem. Ao telefone, no fim da quinta-feira, ela me cobra por não ter ligado antes e me convida para sair na noite de sábado. Aceito, com a ponderação de que sairia tarde do trabalho.

Marcado o encontro, passa ela a distribuir provocações. Só consigo pensar: “Isso só pode ser brincadeira. Mas eu sou o Botafogo. O Botafogo!”

No sábado, me atraso mais do que o normal por causa do trabalho –Murphy é o deus dos botafoguenses, que nem precisam torcer pelo clube alvinegro—e vou buscá-la no metrô. Ela reclama moderadamente. Em casa, sozinhos, a mulher fica mais à vontade.

“Eu não sou uma pessoa de sala, vamos pro quarto?”, me pergunta. Disfarço o ânimo e a acompanho. Lá dentro, ela tira a roupa e usa apenas uma camiseta que eu lhe empresto. Uma falsificada do Corinthians, com o nome do traidor Mascherano nas costas.

“Liga a TV que eu quero ver a novela”, fuzila a moça.

“Como assim novela?” Novela. E Zorra Total. Duas horas e cinqüenta minutos de pura diversão televisiva, apesar de minhas provocações quase nunca correspondidas. É batata; eu sou Botafogo.

Logo depois, chega uma das minhas irmãs em casa. Apesar ficar em outro quarto, a baiana se diz inibida. Depois reclama por eu não ter tomado banho assim que pus os pés em casa –pouco importa dizer que faço isso de manhã e antes de dormir.

“É que eu sou muito agoniada”, afirma ela, sem traduzir exatamente o que quer dizer. Mas ela se dá por satisfeita com a explicação, ainda que a inação dela me custe uma noite na qual poderia estar me divertindo.

Meia-noite no relógio. Eu poderia estar em qualquer outro lugar. Mas preferi dividir cama com uma mulher semi-nua que não queria nada além disso.

Eis que surgem as reclamações sobre a cama onde nos deitávamos. Enfadado e disposto a ver até onde ela iria, sugeri que passasse à outra cama, menor. Ela aceitou. Dormiu e roncou de leve. Puta que pariu, é Botafogo!

Acordou meia hora depois porque teve dor de estômago. Fiz chá e ela reclamou do açúcar. Trouxe biscoitos e ela lamentou por eles terem sido colocados na geladeira.

“Nunca vi isso, só aqui pra aliviar dor de estômago com chá quente e colocar bolacha na geladeira”, sentenciou, do alto do seu sotaque soteropolitano. Kierkegaard não diria melhor.

Desço para tomar um banho e esfriar a cabeça, como se fosse botafoguense um ano antes da quebra do jejum de títulos. Ligo a TV em seguida e ouço que o boxeador Popó, o mesmo que a moça chama de “amigo de balada”, tomou um monte de porrada e perdeu o título.

Chupa, Bahia!

Satisfeito, volto ao quarto para contar à “angustiada” sobre a derrota. Foi esse o único prazer verdadeiro que tive na noite. Mas enquanto fazia isso, notei que ela tinha gentilmente tirado a calcinha preta, a qual estava pendurada na cabeceira da minha cama. O edredon impedia uma visão mais abrangente.

O fato é que uma mulher desejável, que veio por livre e espontânea vontade para o meu quarto, estava nua na minha cama, usando minha camiseta falsa do Corinthians e não queria que encostasse nela. Que isso conste em ata.

Já no dia seguinte de uma noite mal dormida não pelos motivos desejados, acordamos às 8 horas, cada um em sua cama.

A moça se veste e pergunta como faz para ir embora. Desinteressado, respondo mirando o teto. Antes de sair, ela comenta: “Você pensa demais”.

Respondo: “Você reclama demais. E pensa de menos”.

A mulher dá uma risada estridente. “Reclamo demais... essa é boa.”

Voltará logo para Salvador. Mas eu continuarei sendo Botafogo.


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sexta-feira, abril 27, 2007

 
Sonho

Hoje sonhei que o Mussum apresentava o Jornal Nacional. Isso supera o sonho do Michael Jackson campeão do Aberto de Tênis dos EUA. E o sonho no qual o novo arcebispo de São Paulo dizia "Padre que começa muito novo é porque começou muito cedo na putaria."

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