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domingo, agosto 22, 2004

 
Verlorene Illusionen und der Zeitgeist

Estou farto da futilidade descomedida
Da futilidade bem comportada
Da futilidade falsamente jovem, com futuro no funcionário público
No livro de ponto, expediente, protocolo e manifestações de apreço ao Sr. Diretor
Estou farto da futilidade triste, que vive na exceção mas não tem regra na vida
Ainda me faltam vernáculos, vocábulos para defini-la
Abaixo os puristas e seu oporpurismo sujo

Abaixo todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Fora com as construções de fundamento mais débil
Todos os ritmos sobretudo os mais velozes e imprecisos
Estou farto da futilidade namoradora
Política
Raquítica
Sifilítica
De toda a futilidade que capitula ou que quer que seja fora de si mesma.

Não quero essa futilidade contabilidade, tabela de co-senos, conversas sobre amor romântico, presença burocrática em celebrações, secretário de amante exemplar, indignação mal dirigida, cem modelos de cartas e diferentes maneiras de agradar às mulheres, etc.

Quero antes o lirismo dos solitários
À futilidade fria dos bêbados sem álcool
Antes o lirismo difícil e pungente dos pobres calados
Que enchem a boca de arroz, feijão e labuta
E silenciam diante de uma riqueza que é opaca e fútil

Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.

Que importa a paisagem, a Gloria, a baía, a linha do horizonte?
O que eu vejo é o beco.

(inspirado em Poética, de Manuel Bandeira)

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Uma conclusão reforçada e o espírito (fora) do tempo

Aquecer o que deve ser aquecido, e esfriar aquilo que nunca deveria ter sentido calor. De forma inequívoca e inadiável.

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domingo, agosto 15, 2004

 
Pizzas meio-a-meio

Existe coisa mais estúpida do mundo da alimentação do que pizza meio a meio? Fala sério. É mais ou menos o mesmo dos nomes compostos: não tenho a capacidade de escolher conscientemente aquilo que prefiro e jogo a dúvida no produto final. É como se fosse um puxadinho do mundo das comidas. Ah, vão se lavar!

Falta um mínimo de noção de unidade àqueles que se propõem a fazer uso desse expediente reticente e dotado de grande pobreza de espírito. É como se a intenção fosse ter mais pelo mesmo preço. E é esse tipo de gente que compra jornal por causa do atlas ou o churrasco grego por causa do suco. Decidam-se, porra!

Mussarela e calabreza não são arroz com feijão, que são alimentos independentes entre si e não tem seu uso feito em momentos aleatórios. Tampouco são tão incongruentes quanto o queijo e a linguiça de porco: são alimentos essencialmente naturais que vêm de plantações e não tem como objetivo simular refinamento daqueles que comem pizza, e arrotam penne ao funghi.

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domingo, agosto 08, 2004

 
Frieza de espírito

Um monte de risos no meio de uma sessão de Lawrence da Arábia. Afinal, são obviamente cômicos os efeitos que causam a morte de dezenas de pessoas na tela e a comoção tosca do Omar Sharif ao exaltar sua amizade com o condottieri inglês de forma certamente homossexual, pensa alguém na platéia.

E esse alguém assim pensa por saber da dose de ilusão que propaga o cinema. Se fosse de verdade, regurgita, não seria a mesma coisa: haveria Cidade Alerta e a já corriqueira sensação de notícia velha. A de não se estar assistindo a nada muito engraçado, a não ser que um comentário dos Afanásios Jazadjis do século 21 se sobressaiam e salvem esse fragmento tão sem sentido de uma realidade podre e, supõe-se, distante.

Vê-se aí o único tipo de desdém negativo, até porque dá vazão a quase tudo de que se desdenha neste espaço. Uma vez que o valor é meramente atribuído, assim como o desprezo, diminuir os sentimentos humanos, recalcá-los e pisar neles significa o mesmo que tornar natural a simples satisfação dos desejos mais animalescos. Ou preservar uma individualidade rústica e sem vivacidade. É reduzir o mundo para se ater aos detalhes e tomá-los como um inteiro.

Por vezes, essa mesma frieza de espírito vem no silêncio, em uma voz que é calada pelo medo de mostrar seu desejo de ser calorosa. E, em um arroubo de auto-preservação, justifica-se com a frustração de não saber o outro, sempre o outro, compreender, adivinhar razões, anseios, raivas. Todas das mais simples, é claro!

Mas a permanência nesse mundo frio, assim, se garante. A exaltação a cores desbotadas, palhaços sem graça e livros sem letras, também. O desdém pelos sentimentos humanos, demasiado humanos, expõe apenas uma faceta dura e, muitas vezes, falsamente sensível, porque auto-centrada e aparentemente reflexiva, observadora.

O que não dá para esconder é que essa postura não é nada além de medo à liberdade. Um tempo que impossibilita a existência de um desdém quente. Um desdém verdadeiramente humano. Do tipo que sabe aquecer o que deve ser aquecido, e esfriar aquilo que nunca deveria ter sentido calor.





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