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sábado, abril 17, 2004

 
Manifesto do Partido Desdenhista

Mais um espectro ronda a Europa, a América, a Ásia, a África, a Oceania e, de vez em quando, a Antártida. Dia após dia, a importância, mero valor atribuído que não passa de um preço dado por aqueles que observam, ameaça dominar o mundo e aqueles que nele habitam.

Uns tantos bravos, por inspiração de um deus que pode nem existir, resistem. Desdenham dos troféus oferecidos por uma vãlorização pautada, arbitrária e limitadora da existência. Fazem isso os desdenhosos para que o sublime seja alcançado, visto, tateado, percebido, regozijado, aproveitado, satisfeito e sentido naquilo de que menos se espera.

Uma vez que a experiência individual deve ditar as preferências, objetos diferentes podem ser considerados sacrossantos, digníssimos de respeito, com a mesma intensidade, independentemente daquilo que é pré-estabelecido e, como tal, merece ser desdenhado se for o caso.

Não há nada tão incomensurável quanto o desdém dos mortos. E é essa totalidade, inatingível como os limites do universo, que faz da igual apreciação das nuances que compõem o mundo, desprovida de uma preconceituosa e/ou deslumbrada visão a priori, a maior arma na mão daqueles que buscam inverter o sinal das relações nos dias de hoje.

É a abdicação, em uma análise mais densa, da competitividade sem limites em prol da competição ética, isenta em seu máximo de fatores extrínsecos ao ser próprio ser humano. É recusar o discurso único em voga nas sociedades de todo o planeta e voltar-se para uma introspectiva.

Desdenhar é ter a si mesmo como referência absoluta, como elemento motivador de conflito - primeiro consigo, antes de levá-lo a outrem. Desdenhar é o verdadeiro humanismo; é permitir-se não ter medo à liberdade e contrariar o egoísmo daqueles que participam de empreendimentos ditos coletivos unicamente para legitimar seu interesse individual. Ou que amem ao próximo unicamente por ele valorizar o mesmo troféu já conquistado.

Desdenhar é rejeitar o jogo sujo daqueles que encaram um emprego, uma posse, um amor ou uma atitude como mais transcendental do que a própria transcendência. Desdenhar é minimizar para potencializar. É reconhecer que essa transcendência não passa de um mero elemento constituinte da vida, que é efêmera e frágil, ainda que bela (julgo eu).

Por isso, não se trata essa vãlorização de algo a ser mantido como se fora um instinto de conservação da vida. Ela não passa de um fragmento da realidade - no discurso único, O fragmento da realidade. Para que essa visão seja abandonada, é preciso considerar que nada é bom nem ruim em si. E que os valores, assim como todas as coisas desta terra, apenas são o que são.

P.S> Se alguém se aventurou a terminar de ler estas linhas, saiba que elas foram escritas apesar de ser sabido pelo autor do texto o completo desdém com o qual ele seria erecebido.


Falta que eu te expurgo :


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domingo, abril 11, 2004

 
Ricos, homossexuais e mal-educados

Não importa ser gay, tem que ser rico. Não importa ser rico, tem que ser mal-educado. Principalmente, mal-educado, porque se não, a reputação estará manchada de forma irremediável. Quem vai ao Frei Caneca – ou Frei Boneca, ou Gay Caneca, ou... – concorda com o que vai escrito acima e se importa com o desrespeito. Para azar e injustiça do corajoso Frei Joaquim do Amor Divino Rabelo Caneca (1779-1825), que morreu impávido e fuzilado pelo ideais que acreditava e apregoava. Cem anos para frente são mesmo muito para se mudar o conceito sobre certos nomes? Não, não são. Como se disse, é apenas azar e injustiça ao Frei de verdade, ao homem de verdade, ao solidário de verdade, ao humanista de verdade.

Ainda dirão que atacar os homossexuais é sinal de preconceito e intolerância. Estão certos – intolerância tem de haver, na medida em que a presunção e o desprezo grassarem. Dá até para justificar a falta de educação dos homossexuais. Machado de Assis já refletia sobre o ex-escravo que se tornou senhor e batia na sua posse humana. Afirmava Machado que isso acontecia devido à desforra do ex-escravo contra tudo o que sofrera na sua vida de servidão. Batia no escravo do qual era agora dono para descontar as humilhações que iam pesadamente na alma. O corpo se esquece fácil. A alforria dada não o sensibilizou. As pancadas recebidas o educaram. Justificável o recalque, mas inaceitável.

Foram perseguidos durante séculos por gostarem do mesmo sexo. Sofreram, junto com os judeus, as agruras do Holocausto. Os exemplos são bastantes. Ainda assim, estes não lhes conferem carta branca para agir como bem entendem. Uns, ora, recomendarão: os incomodados que se mudem. Por que ir ao reduto dos sodomitas, palavra carregada de ódio e preconceito? É simples: lá tem filmes bons, num cinema bom, que não se encontram em outros lugares. Por infelicidade, o monopólio de alguns filmes está consolidado no reduto dos homo, bem de vida, mas muito descorteses. Cortesia, por incrível que pareça, não é coisa, expressão, de gay!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Muito conceito, ilusão, comportamento deixaria de ganhar uma conotação cor-de-rosa se bem analisado, esquadrinhado.

Esse comportamento vai servir tão-somente para do reduto se retroceder ao infame gueto. É a involução. Acordem, já saíram do gueto, estão no reduto, têm de evoluir para algo mais livre e aceitável. Faça-se um trato. O monopólio referido tem de ser acessível e os homossexuais têm de ser educados. Toda a gente os respeita e eles começam a praticar a civilidade, esquecendo de uma vez por todas a idéia torta segundo a qual heterossexual é inimigo dos que preferem o mesmo sexo. Sejam gays, sejam ricos, sejam bregas, sejam afetados, sejam o que quiserem, menos mal-educados.

Metidos a intelectuais
Tudo o que está escrito também vale para os cults, os metidos a intelectuais. Usam vestimenta e têm vocabulário próprios – não será difícil reconhecê-los. Acham que a pretensa inteligência e compreensão sobre as coisas e criaturas os habilitam a ser indiferentes ao que os outros pedem, sentem e são. Comprovam mais uma vez que os intelectualóides, os intelectualizados, são tudo menos o mais importante e essencial: sábios.

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domingo, abril 04, 2004

 
Desdém Post-Match - GP Bahrein out of loco
Do correspondente e dono Desdenhoso, diretamente de Tel Aviv

Sob a organização do Pastor Dedini, o primeiro GP do Bahrein de F-1 começou a dar sua linha desdenhosa desde os treinos livres na manhã deste domingo. Nada daquele bichoso "Gentlemen, start your engines" que se ouve em Indianápolis ou nas ruas de Monte Carlo. Da torre de controle, um arroto e um "Move your asses, bunch of faggots" do guru brasileiro deu início à sessão. O único a compreender a magnitude daquele momento foi o ex-piloto Ukyo Katayama, que assistia à prova disfarçado como mecânico da Minardi. Percebi as lágrimas correndo naquele rosto coberto por um capacete de 3 quilos. "Sempre gostei muito desse sujeito", suspirou o japa, que defendeu toda a vida que Ayrton Senna, Nigel Mansell e Alain Prost não passavam de grandes bichas.

Depois do treino, próximo do início do GP, Fleumático se preparava para colher depoimentos para sua coluna, que deve sair ainda nesta semana. Disfarçado de dançarina de polca, nosso mancebo se acotovelou entre modelos árabes seminuas no grid de largada e recebeu os olhares tortos de Rubão, pai do “386 sem windows” Barrichello. Nosso colaborador nem deve ter percebido. "No aeroporto esse puto desceu do avião parecido com o Schumacher. Agora vem vestido com essas roupas que deixam o corno do alemão ouriçado. Tá querendo tomar o lugar do meu filho, ô féladaputa?", murmurou o velhaco a um receptivo e nipônico Satoru Nakajima, ex-corredor e hoje vendedor de parabrisa de óculos e de kafta no circuito de Sakhir.

Sobre corrida, não posso falar muito porque confesso não ter visto nada. Estava lá entretido observando com um rapaz de primeiro nome Daltro, que comia areia do deserto, abrindo a boca ao vento, no meio da única arquibancada do autódromo bahrenita. Ciente de minha presença, o Pastor Dedini veio me cobrar, sem muita empolgação, por não estar traçando um dos sanduíches ou uma das modelos que ele importou do Iêmen. Respondi que tinha muita gente levando o tal "circo da F-1" a sério de mais.

Até que ele disse: "Quer saber? Tenho um amigo que é técnico do time do Maccabi Haifa, em Israel e ele disse ter umas fotos do Didir Macedo fantasiado de Padre Marcelo e de Ronaldinho Gaúcho que são de cair de rir. Vamo nessa?" Nem sequer assisti à cerimônia da vitória que tocava Lou Bega no lugar do hino da Alemanha. Mas não poderia me importar menos. Da próxima vez em que voltar, trarei meu Aquaplay da Família Dinossauro para me divertir enquanto as bichonas correm.

Falta que eu te expurgo :

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sexta-feira, abril 02, 2004

 
Desdém Live – Bahrein Sessions I
De nosso correspondente internacional Fleumático

Bem amigos do desdém.blogspot.com, como enviado especial e arroz-de-festa ad hoc deste famigerado periódico, escrevo estas mal-traçadas linhas diretamente de Sakhir, cu do Bahrein, onde ocorre uma das etapas do mundial de Fórmula 1. Mais uma vez, esse bando de desocupados filhinhos de papai vai pegar seus carrinhos e sair correndinho unzinho atrás do outrinho até chegar numa bandeirinha e pegar um troféuzinho, um champagnezinho e uma loiraçazinha.

Festa, emoção, narguilés alucinados... A população Bahreinita vibrou ao ver nossa equipe de reportagem, toda fantasiada de Michael Schumacher, descer do avião fretado da BRA. Com os olhos rasos d’água, um MC beduíno local veio até mim e, com uma expressão de dor perguntou: “Onde é o banheiro?”.

Mas o Bahrein guardava mais surpresas do que um beduíno com caganeira. Nos primeiros treinos livres, Rubinho “386 sem windows” Barrichello ficou em primeiro lugar. E não foi de baixo pra cima não, foi de cima pra baixo mesmo.

Aguardem mais notícias do emocionante Grande Prêmio do Bahrein, com o patrocínio de Aves Rent-a-Camel e Biscoitos Dunga.


Falta que eu te expurgo :

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Mais um almofadinha na vida

A vida é fantástica, dá voltas e faz o homem bom tornar-se mau. Ele passou sua curta vida a proclamar que nunca entraria num jogo de aparência para camuflar o que é e pensa. Mas o lugar onde vive o levou a engolir o que dissera. Arrumou um emprego, que lhe exige a visita diária ao mundo do almofadismo. Empertigado e janota, percebeu que os outros o respeitavam mais, ele era tido como alguém sério. Acreditou.

Está fazendo as vezes de assessor de imprensa em uma empresa de RH. Lá fica arrepiado de meia em meia hora. O cara é sensível e ingênuo. A vida bate na cara de quem é assim. Nunca se viu um rosto tão vermelho e agredido. Um dia, antes de ficar sem tempo para nada, ele aprendeu o que era ética. Achava que em tudo devia ter ética, até no uso do fio dental. Até com a namorada, a quem devota uma fidelidade mais forte que um papa-hóstias em dia de Paixão de Cristo ou Natal.
Ética, agora, para ele é mentir. Ele se pegou mentindo – porque isso faz parte da gestão corporativa. Da governança empresarial, à qual teve de curvar-se para ganhar seu mísero salário. Quanto mais desemprego, mais joelhos que estão empregados encostam-se ao chão.

A convivência com aéticos faz milagres. Ele convive o dia inteiro com psicólogas que falam até a náusea chavões insuportáveis, nascidos na prática desenfreada do anglicismo e da baboseira. Somente porque sabem algumas palavrinhas vazias de sentido, julgam os outros. Para uma pessoa ser recrutada, julga-se o para mim fazer, em vez de se julgarem traços do caráter. É incrível, vale mais a pena hoje ser oportunista (ou dinâmico, ou ambicioso, ou...) do que falar errado segundo o padrão arbitrário e culto da língua.

Elas têm um ícone, um ícone às avessas. O judas delas é a Solange do BBB 4, conhecida por exaltar a própria ignorância. Falam que ela é burra, porque não sabe falar. O problema é que elas também não – só sabem exprimir um discurso previamente concebido, repetido à exaustão, dir-se-ia que o vocabulário não passa de vinte palavras. Sinal dos tempos.

Fala-se de sedução também: seduzir o cliente – o paspalho, para ser mais real e franco – com as palavras; aliciar com palavras. Palavras são cocô quando esvaziadas de sentido e usadas para vender uma coisa que não existe. E unzinhos vêm falar de ética. Uma estagiária reclamou da vendedora que não quis o serviço por ela oferecido – “é uma burra, uma vaca, vai ficar ganhando trezentos reais o resto da vida”. A estagiária ganha apenas R$ 600,00. Com direito a vales-transporte. E anda de carro só para esnobar. Quer dizer, para vir de casa, que é longe. O que importa: trezentos reais a mais habilitam uma pessoa a massacrar outra.

O almofadinha, que a tudo vê e sente, além preocupar-se com o aprumo no vestir, começou a ser preconceituoso. Reclama do cheiro do proletário no ônibus e no metrô. Já exigiu dos pais a compra de um carro, porque é chique andar de carro, ainda que o trânsito nunca permita ficar na terceira marcha por um tempinho que seja. Os outros xinga, baixinho, de pobres e de burros. E foi currado. E tomou naquilo que é responsável por guindar sua honra aos mais altos patamares. Aos patamares do homem que tem moral e se faz respeitar. Em casa pensou na seguinte coisa (seu pensamento já está formatado na narrativa – narrativa? – de livro de auto-ajuda). “Adote a linguagem e o comportamento dos recursos humanos e seja currado, esta deveria ser a propaganda”. Nos carros, o seguinte adesivo: sou RH, fui currado. Seja você também. RH, um bando de currados vocacionais, que querem ser currados, mas que não o admitem.

Falta que eu te expurgo :

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