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terça-feira, janeiro 27, 2004

 
FESTA PARA QUEM TEM

Se uma vivalma nascesse às vésperas dos 450 anos da cidade de São Paulo e acompanhasse as comemorações até o grande dia, sairia com a impressão de que a referida estende seus limites pela Av. Paulista, Av. 23 de Maio, algumas localidades do Centro e dos Jardins. O resto pertenceria à outra cidade, sem nome e sem amparo.

Zona Leste e Norte inexistem para a TV e as comemorações. A Z.L., no entanto, fornece a maioria da mão-de-obra braçal e de servicinhos que ninguém quer para a parte fina e lembrada da cidade. As janelas dos arranha-céus são limpas por gente de lá, que pega o metrô da linha vermelha e mais de duas conduções para servir café ou carregar envelopes pela rua. Que vira recheio de sanduíche depois das cinco da tarde e às sete da manhã. A mesma gente que dorme mais tempo do seu sono no metrô, no trem e no ônibus do que na cama de casa e que lê Agora, quando lê alguma coisa ou tem dinheiro para comprar, e não JT, que parece um Estadão em versão engraçadinha e levezinha, mas nem um pouco popular. A mesma gente que faz tudo movimentar.

Enquanto se ignora esse estado desolador, o paulistano e outros filhos adotados desta cidade festejam o cheiro de óleo e a multidão imbatíveis. Não tem por que se preocupar com outra coisa, afinal, o servidor de canapés, guaranás e uísques não é protagonista de nada, nem se sabe por que ele existe. Um dia ainda inventam um robô para ser o garçom e a cozinheira. E aí, sim, será um tempo feliz, com os do povão confinados nos seu lugares, onde há crimes, desamparo, miséria, ou por outra, onde não há a cidade 450 anos (o pedante ainda se mata de tanto escutar esse número), a locomotiva do Brasil.

Falta que eu te expurgo:

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