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sábado, janeiro 17, 2004

 

Porque Chico Buarque canta mal - parte I



É evidente que o filho de Sérgio Buarque de Hollanda tem sérios problemas para não maltratar os ouvidos daqueles que escutam sua voz, afinada como uma máquina de fazer caldo de cana. Nem o próprio Chico nega esse descompasso funesto entre cérebro-boca-voz-uísque.

Poucos conhecem os motivos para que isso aconteça. Mas, dos confins do Bahrein, veio a resposta. Desse país asiático, o inabalável Pastor Dedini mandou documentos exclusivos. E com eles a certeza: há mais do que a separação de Marieta Severo e doses de Old Eight na mamadeira por trás da débâcle do homem que grunhe nos palcos como uma preá grávida.

Tudo começou em 1959, em uma visita a Al-Manama, capital bahreinita. O pimpolho de 15 anos, descia as escadas do avião. Ia trôpego, nauseabundo, garrafa de Jack Daniels embaixo do braço. Os fiscais alfandegários usavam na lapela uma foto do Faiçal do Iraque, figura proeminente do período, influencia na perseguição às figuras destoantes da paisagem do Oriente Médio. Quando o pobre Chicote se aproximou, eles não resistiram.

O futuro desafinado - inspiração para o aporrinhante João Gilberto - foi o último da delegação dos Buarque de Hollanda a passar pelo controle da alfândega. A família já se distanciava quando funcionários barraram o moleque. Nos documentos, consta que Chico teria mostrado o dedo médio, sinal de desrespeito no mundo inteiro, ao coordenador dos trabalhos. E isso apenas porque o burocrata pediu que o pivete fosse fotografado e fichado, afinal era o único passageiro que trazia o vício ocidental à tira colo.

Perdido de seu clã e pego pela polícia, o brasileiro foi preso e sofreria as consqüências de seu ato violento às leis locais. Levado à delegacia, despido, amarrado pelos pés, posto de ponta cabeça, mas ainda com a garrafa de uísque na mão, o cancioneiro foi condenado a 50 porretadas na planta dos pés. O que não esperavam os policiais era a reação de um xiliquento Chico Buarque, muito sensibilizado.

Quando ele começou um canto-grito, os carrascos, atormentados, não conseguiam continuar. Terminou levando apenas sete pancadas, além de um tostãozinho no joelho. Saiu satisfeito por ter amedrontado os espancadores e, então, decidiu iniciar uma carreira no Brasil, onde as pessoas estão acostumadas a ouvir gente cantando mal. Até porque não pôde permanecer no Bahrein por muito tempo.

Três horas depois, o artista foi deportado, por razões de segurança nacional. Os árabes são intolerantes com aqueles que não tenham voz chorosa, como a do Khaled ou do Tarkan. O tom quase dodecafônico - mais afônico que dodeca - do brasileiro era insuportável para eles, cuja tolerância só suportou o conjunto Locomia, já no início da década de 90.

Até hoje, o Chico não entra naquele país. Resultado também do trauma, já que foram lá que surgiram as deformações vocálicas indeléveis que carrega consigo. Mas a experiência no Bahrein de Cheques, harens, palácios e Dedinis não foi tudo. Aos seus 19 anos, Chico seria carimbado com outra marca, ainda mais definitiva. Aconteceu no Dia da Mentira de 1964. E ele segurava uma garrafa de uísque embaixo do braço. (Continua)

Falta que eu te expurgo:



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