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domingo, maio 16, 2004

 
Sobre os recessos

Depois de quase um mês de descanso, este espaço volta à ativa. Nesse interím, perguntaram alguns: "Por que o blog está parado? Você não tem compromisso com os leitores do Desdém?" Outros foram além: "Por acaso você comprou um livro dos Hare Krishna e foi passar férias no Tibete?" Até o Pastor Dedini apelou: "Sabe quanto foi o jogo do Curintia ontém à noite?"

Invariavelmente, respondi, em arroubos apáticos por uma comparação genuína que me havia vindo à mente. "Eu não gosto da Suíça. Lá já está tudo pronto. Eu só gosto daquilo que está por fazer. Logo, desdenhei do Desdém e o deixei por fazer. Assim, posso continuar gostando dele."

A maioria não entendeu o que eu quis dizer. Tampouco me importei em explicar. Só os confundi mais, citando o exemplo daquilo que os parlamentares azem em Brasília o ano inteiro. Presta atenção: os caras deixam o Congresso às moscas, mas existe algum parlamentar que queira ficar fora dele?

Já viu um algum deles dizer "Olha, eu não curto muito aqui, não. Sinceramente achei que ia ser outra coisa, uma galerinha mais descolada, pra fazer guerra de papel durante as votações, ficar depois do expediente pra jogar conversa fora... Eu vim mesmo pra fazer amigos. Da próxima vez, não vou nem me candidatar."

Não. Afinal, para que servem as faltas e os recessos senão para sentir falta do gabinete e do plenário? Para que ficar o tempo todo presente em uma sessão sem aproveitar o ócio, componente primordial na composição de um homem público?

Pois bem. O mesmo se aplica a este espaço. Como é que as pessoas teriam saudade dessas linhas se a atualização fosse diária, frenética? Como é que elas poderiam assumir um compromisso com o desprezo à instantaneidade, se tiverem de passar por um constante processo de adequação às normais atuais? Por isso, faço minha parte. E quem discordar, que se dirija ao consulado da Suíça.

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