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domingo, julho 11, 2004

 
A dádiva da ignorância


Não há maior dádiva do que a ignorância. Ela faz apreensões mais justificáveis, constrói amores mais puros, permite atitudes mais humanizadoras. Até os ódios, rudes, são todos absolutamente honestos.

Como não se afeiçoar a tamanha clareza de espírito? Como desdenhar da franqueza quase pornográfica, que tanto faz os adultos invejarem aqueles que ainda vivem sua infância?

É justo que todas essas digníssimas nuances sejam um resultado da negação do saber, o qual é, inexoravelmente, inatingível. Deve-se, por isso, aceitar as limitações sem excesso de questionamento e viver consigo mesmo enquanto é tempo, oras.

Vá lá alguns amigos, ruas, casas, amores, ilusões, provas, cabelos, jornais, familiares e penduricalhos de vez em quando - desde que não implique sofrimento pessoal, é importante dizer.

Por isso, exaltemo-na! Como é singela, bela e arrasadora a estupidez humana! Que olhos encantadores, únicos, tem ela ao olhar de forma nua. De sugerir um mergulho na obscuridade... no auto-centramento...

Glóbulos que fascinam e que nada escondem, senão a visão daqueles que neles creem com fervor - por sua honestidade despretensiosa.

É assim que a mais grave das agressões se transforma em um nada ofensivo olvido. Um simples descuido. Uma pequena impropriedade.

É dessa forma que angustiados - como eu e mais uns três ou quatro - têm sua oportunidade de serem devidamente tapeados. De sentirem quão fútil é sua ansiedade por conta de um desnecessário acúmulo de informação. Afinal, para quê se excluir de um sono profundo no próprio ser?

Por que deixar um sono de onde poderiam derivar elocubrações, elogios, censuras e escárnios... de onde surgiria a gutural troca de afagos de bravos homens, mulher, jovens, velhos e adolescentes que tornam perene sua individualidade, acima de todas as coisas?

Por isso, que seja exaltada essa uma celebração desdenhosa! Afinal, nada importa o fato de ela não ter qualquer valor que não tenha sido meramente atribuído por aqueles que, diariamente, acreditam na dádiva de ignorar por duvidarem a possibilidade de existir.


Falta que eu te expurgo :

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