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domingo, novembro 28, 2004

 
Ondas de Ano Novo

Um dos rituais mais bestas do fim de ano é pular onda ao badalar da meia noite do dia 31 de dezembro. Fala sério: que tipo de cidadão acha que precisa pular feito uma gazela no litoral sujo de Santos ou nas abarrotadas praias do Rio para ter sorte no ano vindouro? Tem uns que creditam a isso as atuais situações de Paraguai e Bolívia, países de gente que canta, mas não é feliz. Ah, vão se lavar! Vão pular onda de piscina de quintal!

Outro rito iconoclasta besta, já condenado pelo Pastor Dedini, é o de subir nas cadeiras comendo lentilha, para boa sorte. Speak serious! Sprech wichtig! Habla serio! Na minha tenra infância, quando acreditava nessas besteiras, passei anos comendo lentilha no Dia de Ano Novo sem subir na cadeira.

Qual não foi a desilusão no meu corpo de menino ao descobrir que nada daquilo teria valido se não tivesse me erguido na cadeira. Quantos corações não foram assim quebrados? Quantas expectativas, frustradas? Isso porque um simples ritual foi associado a outro, dificultando sua realização e confundindo mentes e espíritos de forma deplorável?

No Bahrein, onde o calendário gregoriano não vale uma carcaça de dromedário velho, as pessoas desdenham dessas estranhas culturas das sociedades judaico-cristãs ocidentais. Em vez de pular as ondas no deserto ou comer romãs e tãmaras para que a fortuna os privilegie, eles se sentam à beira do caminho jogando xadrez com esterco ressecado de camelo e comem os quitutes feitos por suas esposas.

Ante a reverberação desses fenômenos de (falta de) crítica, sinto que apenas duas soluções, baseadas em uma fatwa do grande Dedini, são plausíveis para um mundo que pula cada vez mais ondas e come mais lentilhas em cima de cadeiras: o suicídio coletivo ou o asssassinato seletivo. O segundo é mais fácil, reconheço, e preferi começar por ele: Farabollini Júnior.

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