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domingo, novembro 07, 2004

 
Spleen Splash

Qual sentido existe em usar aquele brinquedo do Playcenter chamado Splash? Você é colocado numa montanha russa chumbrega, grita feito uma preá grávida, se molha pra cacete e ainda sai dando risada, mesmo tendo de passar o dia inteiro no parque, escaldado como batata frita de restaurante da Praça da Sé.

Assistir ao deleite desses cidadãos na saída do referido brinquedo me causa uma dor viceral, na alma, como o spleen daqueles poetas byronianos. A diferença é que a dor deles geralmente era por não conseguirem comer ninguém, além de eles mesmos. A minha é uma dor máscula e tem relação com a falta de propósito dessa gente, vivendo uma vida tão besta...

O pastor Dedini costumava dizer que a felicidade é algo lógico, baseado na beleza das coisas simples - como se alimentar, ouvir música, ler um livro, ter uma vida afetiva e permanecer seco. As surpresas, às quais uma existência fecunda não deve se furtar, surgem como decorrência dos atos mais singelos. E molhar-se nunca fez parte dessa equação.

Bem pelo contrário: durante nossa infância era comum sermos punidos caso isso acontecesse. Por isso, anos mais tarde, fica difícil de entender o por quê de se procurar prazer em coisas tão complicadas, a exemplo do brinquedo Splash. As diversões mais facilmente encontráveis ainda não parecem ter se exaurido. Então, pergunto: qual é o objetivo disso tudo?

Olhem para os bahrenitas: vivem em um país cuja principal atração é um autódromo, lugar quente pra caralho e estão felizes. Comem seus pães, ouvem o pastor Dedini e arranjam esposas para engravidar. E nada disso tem a ver com a pobreza, uma vez que não há glória alguma em ser pobre. No Bahrein, ricos e pobres dividem a mesma areia.

No resto do mundo, no entanto, na dita civilização, tem de ser diferente. Precisa ter splash, pão de queijo com recheio, celular com televisão, revista de celebridades e sistema de segurança, para deixar tudo bem protegido. Não dividimos as mesmas areias por aqui, apesar das afirmações em contrário dos imbecis de plantão, que exortam a democracia das praias, onde uns vendem cocos para outros os comprarem.

Para curar esse meu spleen tropical, moreno e brasileiro, nessa festa que é a nossa democracia, só vejo três soluções: o suicídio coletivo, o linchamento seletivo e o terrorismo. Uma vez que a última atrairia o maior número de adeptos, deixo pronto um jingle. Não se recomenda que ele seja entoado no Splash do Playcenter.

Baseado em jingle de campanha de um mandatário de uma republiqueta por aí

É com te ene tê
É com te ene tê ê ê
Dinamite e bomba agá
E que se exploda,
E que se exploda
Explodaaaaaaaaaa...




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