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domingo, dezembro 12, 2004

 
Variantes de Panettone

Chocolate, floresta negra, brigadeirão, light, com frutas, sem frutas, só com uva passa, com goiabada e até de coca-cola! Que tipo de imbecil decide transformar o simpático panettone nessa metamorfose ambulante sem cara e sem sentimento?

Tudo bem que Natal é só uma oportunidade para vender os badulaques que a indústria tem encalhado ao longo do ano. Mas não precisa exagerar tanto. O Pastor Dedini, pouco antes de ser enviado a seu auto-exílio no Bahrein, já havia dito, referindo-se aos pães de queijo com recheio:

"Não faz sentido perverter uma tradição tão arraigada, que nos dá alguma noção de permanência neste mundo (sic), unicamente para se introduzir ingredientes discrepantes com os fundamentos gastronômicos pelos quais uma determinada criação se orientou desde sua gênese."

Sob um prisma kantiano, segundo o qual todo exemplo deve ser testado em seu extremo para ser dado como universal e, portanto, ser um preceito aceitável, o panetone de coca-cola é uma aberração, um aborto da natureza. Que originalidade existe em perverter a universalidade do panettone unicamente para fazê-lo com gosto de refrigerante?

Para um observador mais atento, esse tipo de produto, além de inoportuno, é contraditório: quantas vezes mudou a coca-cola de imagem? Ou a goiabada? Rigorosamente nenhuma, ao menos nas últimas décadas.

Sendo assim, qual é o sentido dessa nova geração de panettones? A quem servem eles? A quem serão eles servidos? Ainda que muitos considerem essa uma batalha perdida, garanto: nenhum pedaço dessas abomináveis criações tocá nem os meus lábios nem os do guru, um homem que me convenceu sobre a importância de resistir ao sedutores e inexpugnáveis encantos do novo.

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